Curiosidades e Relatos: Audio Technica VM540ML vs. Ortofon 2M Red | Por Arthur Perdigão

Audiotechnica AT VM 540ML / Toca discos Gradiente RP-II

Sempre tive um tipo de “hiperfoco” com discos de vinil, agulhas e qualquer coisa voltada a tais assuntos. A princípio, o que mais espanta ao pesquisar sobre qualquer agulha de diamante nu é o preço absurdamente alto em comparação com outras agulhas “bonded”. Com o passar do tempo, as agulhas tipo line contact e microlinear/microridge passaram a me chamar a atenção devido uma série de coisas que andei lendo sobre elas.

Amante assíduo das Ortofon e usuário delas por mais de 7 anos, seria um passo muito ousado pular para as Audio Technica, mas a tentação em conhecer a VM540ML ou VM740ML me consumiam! Queria saber como era possível uma microlinear custar bem mais barato que uma fine line (como a 2M Bronze), considerada do mesmo nível e arrancar tantos elogios quanto. Todo fórum comparativo colocava a Bronze pra “comer poeira” em comparação com a AT. Além da VM ser mais barata, tem um shape de diamante superior a Bronze.

Um dia não resisti ao desejo e a curiosidade e comprei… não poderia ter sido uma escolha melhor!

Coloquei minha Ortofon 2M Red na gavetinha e dei início a minha experiencia com a VM540ML da Audio Technica. Descreverei de forma breve um pouco da minha experiencia com ambas. Os testes foram feitos em um Gradiente RPII, montado em um receiver Sansui R-50 e fones Hi–Res da Pioneer, modelo SE–MS7BT–K, sem um pré de phono dedicado.

Características diferenciais das cápsulas:

VM540ML: https://www.audio-technica.com/pt-br/vm540ml

2M Red: https://ortofon.com/products/2m-red

Razão do investimento

Como disse anteriormente, sempre amei as Ortofon. O que mais me incomodava nelas eram duas coisas, comum em agulhas elípticas: baixa durabilidade e falta de detalhamento no final dos discos, quase sempre acompanhados de distorção harmônica. Ao contrário do que a Ortofon adora expor em seu site e manuais, é definitivamente impossível uma OM5e, OM10 ou 2M red (agulhas que utilizei muito nos últimos anos) durarem 1000 horas. Honestamente, depois de 400 discos escutados (se chegar nisso tudo), fica bem complicado manter a agulha sem desejar repor. Toda pessoa que pensar em usar uma agulha elíptica precisa ter a noção que de todos os shapes, esse é o menos durável, com estimativa de 150-200h no máximo, isso se usadas com muito cuidado em discos muito bons.

Num universo em que essas agulhas estão cada vez mais caras, passei a cobiçar as fine line, micro-ridge e especialmente, as microlinear da AT. Levando em conta que essas agulhas preservam mais os discos, tem tracking infinitamente mais preciso e (sim!) essas podem chegar as 1000 horas, comecei a pensar que o valor delas não era tão alto assim. Considerando que as elípticas que duram torno de 200 horas/400 discos (de 10 até 12 meses na minha experiencia de uso), quantos anos eu poderia usar uma agulha do tipo microlinear, não é mesmo!?

Foto da agulha retirada por meio de um microscópio

Primeiras impressões

Não foi uma aceitação de cara! O primeiro estranhamento fora a abertura de agudos, algo que não estava muito acostumado com as Ortofon, que tem uma assinatura muito mais voltadas pra médios, pra algo mais “aveludado”. A segunda grande observação – e essa foi uma observação agradável, obviamente – foi o nível de detalhamento que simplesmente não tem comparação com qualquer elíptica. O ímã duplo faz uma diferença monstra na divisão de canais! Mas definitivamente o maior deleite foi quando a primeira audição chegou no inner groove. Acreditem fãs da Ortofon OM5e, super OM10 e 2M Red: a distorção e falta de detalhamento no final do disco simplesmente não existe! Ela soa sem distorção harmônica aparente do início ao fim.

A lenda das AT que mais escutei – e acreditei – assistindo muitos vídeos de rips desse conjunto mal ajustado pelo Youtube, era que essa agulha era seca, metalizada e com agudos irritantes. Vamos a esses pontos:

O que não falta nessa queridinha é agudo, agudo a dar com pau! Alguns discos novos que amava escutar na Ortofon como sheer heart attack, The Game e A Day at the Races do Queen, pareciam soar um tanto irritantes nos vocais. Parecia realmente transformar médios-agudos em “XISSSS” desesperadores, apesar que isso não acontecia com discos japoneses e outros importados de época. Depois de algumas semanas, percebi que os “xisss” nos vocais se reduziram drasticamente! Justamente esses dos Queen citados passaram a soar tão bem quanto na ortofon depois de um tempo de uso da agulha. Não saberia informar, caro leitor, se eu me acostumei ou foi uma mera questão de amaciamento. Mas apostaria todas as minhas fichas na segunda hipótese.

Foto da agulha retirada por meio de um microscópio

É um conjunto sem exageros e extravagancias no quesito frequency range. Extremamente flat depois do amaciamento. Graves profundos, presentes, mas digamos assim, “sem ser vulgar”. Os médios tem uma definição surreal nos vocais femininos, soam sem rachados, límpidos (30 da Adele soava uma vergonha na Red e ganhou vida na AT, de forma impressionante!). Os vocais masculinos soam naturais, abertos… A abertura de agudos é o cargo chefe desse conjunto. Graças a isso, a abertura de palco sonoro é estrondosa! Sons como de violino ou violão são absurdamente realistas.

Testes em diferentes discos

            Como citei brevemente, de cara ela amou os poucos discos japoneses da minha coleção. Mas o mais espantoso pra mim foi ela tirar tanto proveito de discos nacionais. Os discos bem conservados soaram um absurdo! Os com marcas leves também me espantaram, uma vez que ela não “denuncia” tanto os estalos e ruídos dos discos como a 2M red costuma fazer.

Breve comparativo com a Ortofon

As Ortofon – em especial a 2M red – transformava a experiencia com a maioria dos discos BR num pesadelo. Com a 2M eu me via cada vez mais preso a discos novos e alguns importados de época. A depender, nem os japoneses se salvavam. Sem falar no foco absurdo em imperfeições do disco, como estalidos que eram percebidos como leves na Super OM10, que viraram verdadeiros backgrounds de batata frita na Red! De forma alguma estou cuspindo no prato que comi, não pensem mal das Ortofon, jamais! São excelentes, mas por serem tão temperamentais e “seletoras” de discos – com o plus de durarem pouquíssimo – honestamente, me deixaram saturado (lembrando que só usei agulhas elípticas).

            O comparativo é obviamente injusto. 2M Red é de uma faixa de preço infinitamente inferior, então o intuito aqui não foi desmerece-la, mas apenas expor minha experiencia mediata com essas diferentes agulhas. Uma comparação justa com a VM540ML deveria ser uma 2M bronze.

            Logo, a vencedora da queda de braços é obviamente o conjunto da AT, nos quesitos:

            *Durabilidade do diamante

            *Preservação dos discos

            *Detalhamento

            *Baixa distorção harmônica

            A Red ganha em dois quesitos:

            *Tracking force um pouco menor

            *Estética (acho a AT feia de dar dó!)             Se você caro leitor, estiver buscando uma agulha num bom custo-beneficio, lhe garanto que o investimento valerá cada centavo, lembrando que uma VM540ML equivale a umas 4 ou 5 2M Red em questão de durabilidade. Se a Red não fosse tão cara no mercado brasileiro, provavelmente seria uma boa escolha para nível intermediário/de entrada. Logo, acho que a AT ainda vale os “centavos” (risos) a mais.